Sortudos os que não ouviram essa frase incontáveis vezes após a aprovação no vestibular. Sabe-se que não, não passaremos cinco anos lendo as obras completas do falecido Sigmund, pois a Psicologia se estendeu a outros âmbitos, com pensadores diferentíssimos que elaboraram teorias que não equivalem em nada à Psicanálise. Isso não é novo. O que surpreende é que as noções de algumas pessoas sobre determinadas teorias ainda é bastante superficial. Há, ainda, quem imagine que Análise do Comportamento é apenas mexer com ratos em caixas de Skinner, fazê-los apertar uma barra e dar-lhe água. E aqui se encerra a teoria skinneriana. Será mesmo?
A ideia de que o Behaviorismo
parou em Pavlov e Watson parece não ceder facilmente entre os corredores de
algumas universidades, apesar dos esforços de docentes para que essa visão não
se perpetue. O famoso cão de Pavlov trouxe incalculável ajuda para seu dono?
Sem sombra de dúvidas. Mas não paramos por aí.
O cachorro que salivava ao ouvir
o som de uma campainha estava inserido em certo ambiente, com estímulos capazes
de interferir no comportamento dele. É importante nos atentarmos a que tipo de
ambiente nos circunda. O mundo não é feito apenas de estímulos que eliciarão
respostas fisiológicas (também chamadas respondentes). Ao falarmos de ambiente,
de como somos influenciados e influenciamos o que está ao nosso redor, tratamos
também de toda a sociedade em que estamos inseridos, conjuntos de práticas
culturais que perduraram – e possivelmente perdurarão – por décadas ou séculos,
como as culturas sobreviveram e transmitiram determinados comportamentos
adiante, entre outros aspectos. Instâncias que auxiliam nessa transmissão e
manutenção de práticas e, por conseguinte, na sobrevivência das culturas são as
denominadas agências de controle.
Skinner, que preconizou o
Behaviorismo Radical, falou melhor das agências de controle em seu livro
Ciência e Comportamento Humano, de 1953. O termo “agências de controle” pode
fazer algumas pessoas pensarem em Orwell e sua distopia sobre o Grande Irmão,
contudo não é essa a finalidade dessas agências. O planejamento cultural não
ocorrerá de maneira ditatorial, a previsão e controle estipuladas por Skinner
não equivalem às câmeras e seguranças de 1984; na verdade, essas agências atuam
como instâncias insubstituíveis: governo e lei, educação, psicoterapia,
religião e controle econômico.
Um ambiente social diz respeito a
qualquer situação em que um indivíduo fica sob controle de respostas verbais
alheias e age de acordo com elas a fim de produzir uma consequência para ele
reforçadora, ou evitar que uma consequência aversiva se apresente por conta de
um comportamento julgado inadequado. Séculos atrás, quando foi especificado que
não era adequado, por assim dizer, roubar objetos de outrem, esse comportamento
específico buscou ser mantido a partir de respostas que não se relacionassem à
classe de comportamentos “roubar alguma coisa”. Apesar de haver desviantes,
essa prática foi mantida ao longo do tempo por conta de estabelecimento de
outros repertórios comportamentais que não faziam necessário o roubo de objetos
alheios. A manutenção desse comportamento pode estar relacionada a instâncias
relacionadas a determinadas agências de controle que, por uma funcionalidade
questionável, auxiliam na perpetuação de determinadas práticas ao invés de
extingui-las.
Denominamos “prática cultural”
comportamentos que são realizados por um grupo de pessoas, como o comportamento
de ir à escola ou frequentar uma igreja. Essas práticas são mantidas por conta
do seu valor de sobrevivência, ou seja, o que auxilia na manutenção dessa
cultura, dessa sociedade, no ambiente em que ela se encontra. Devido a práticas
culturais inadequadas que muitas civilizações podem ter se extinguido ao longo
da história. Obviamente, nem todas as práticas se mantêm durante toda a
existência de uma sociedade, e várias práticas podem ser criadas,
acidentalmente ou não, e, por sua utilidade, serem selecionadas e transmitidas
às gerações seguintes, o que pode modificar, em parte, uma cultura. A
designação de Skinner para esse processo é evolução cultural, ou evolução das
culturas.
As agências tratadas no livro
supracitado são mantenedoras de práticas culturais, algumas milenares, como no
caso da religião cristã. A partir da influência dessas agências que os indivíduos
se pautam para definir determinados comportamentos, porém cada repertório é
único. Não podemos esperar que um cristão que estudou em certo tipo de escola
tenha os mesmos comportamentos de um cristão que foi a outro tipo de escola,
por exemplo. Diferentes ambientes selecionarão uma variedade diversa de
comportamentos, e os indivíduos terão classes de respostas diferentes para cada
situação.
As culturas de cada cidade,
estado ou país serão diferentes por conta das práticas culturais selecionadas
por cada uma, porém não podemos imaginar que os ambientes serão sempre
conflitantes. Por conta da globalização, por exemplo, houve novos repertórios a
serem desenvolvidos e selecionados em diferentes cantos do mundo, e podemos nos
atrever a dizer que essa seleção de práticas poderá auxiliar na sobrevivência
de diversas culturas, tendo em vista que, atualmente, não dependemos apenas da
sobrevivência enquanto seres biológicos, mas, também, como seres sociais. É
importante frisar, entretanto, que nem todas as práticas culturais selecionadas
são, de fato, úteis e funcionais para todas as culturas, e é imprescindível que
nos atentemos ao que é ou não selecionado pelos indivíduos de uma sociedade.
Skinner, B. F. (2003) Ciência
e Comportamento Humano. São Paulo: Martins Fontes.
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