Texto escrito por Alisson Lepienski (Membro efetivo LAC-AC)
Quando falamos de uma intervenção comportamental,
sempre lembramos dos comportamentos públicos que devemos ensinar ou modificar.
Podemos ensinar alguém a ser assertivo, a utilizar habilidades sociais, a se autocontrolar,
entre tantos outros comportamentos possíveis. Mas e os sentimentos e sensações,
quais são suas funções numa intervenção analítico comportamental?
Na linguagem leiga, dizemos que nos comportamos de
determinada maneira em decorrência de uma emoção. Brigamos porque temos raiva
ou choramos porque estamos tristes. A contiguidade pode explicar, em partes,
porque fazemos tal associação sem maiores questionamentos. A tristeza vem logo
antes do choro, e a raiva vem logo antes da agressão. Assim, achamos que as
emoções causam nossos comportamentos públicos.
Os analistas do comportamento, contudo, não
compartilham dessa visão. Para eles, os sentimentos são produtos de uma relação
estabelecida entre um organismo e um determinado ambiente. Usamos o termo
ambiente aqui em um sentido amplo, que se refere a tudo que pode afetar o
organismo (uma música, um filme, um abraço, uma interação social ou até mesmo a
extrema solidão). Assim, ficamos tristes ou com raiva por causa de algo que nos
aconteceu. As emoções não são a explicação de nossas respostas e sim algo a ser
explicado também.
Se as emoções não são a causa inicial do
comportamento, por que se preocupar com elas? Uma das respostas mais
importantes para essa pergunta é a menos teórica e a mais prática: os nossos
clientes se preocupam com elas, e a prestação de serviço do analista do
Comportamento deve se adequar às queixas propostas a nós pela sociedade,
seguindo os princípios éticos delimitados por nossa profissão. Para os
clientes, as emoções são a primeira “pista” de que algo está errado, de que
alguma coisa na vida deles está fora do lugar, mesmo que eles não consigam
identificar o que é que lhes causa algum sofrimento. Acredito que queixas do
tipo “estou me sentindo X” são muito mais comuns do que as do tipo “eu faço Y”
no âmbito ambulatorial.
O que o cliente sente, por sua vez, são condições
do corpo, provocadas pela relação entre o organismo e o ambiente. Os
sentimentos são dicas comportamentais sobre contingências. Eles nos indicam a
probabilidade de agir de determinada pessoa (“Eu estou com uma vontade imensa
de tomar uma cerveja!”) ou ainda indicam as possíveis funções de estímulo de determinada
situação ou pessoa (“Eu não gosto de X”, “Algo naquela pessoa parece estar
errado”).
A grande questão que fica para o analista do
comportamento é: quais são as contingências que fazem com que a pessoa se sinta
dessa determinada maneira? E aí a habilidade de entrevistar do terapeuta é
essencial! Perguntas como: “Você sempre se sente assim?”, “Começou quando?”,
“Tem alguma ocasião que você não se sinta assim?” ajudam a compreender
possíveis fatores que levam a pessoa a ter esses sentimentos descritos.
Podemos, a partir das contingências inferidas, tentar propor modificações na
vida da pessoa que, provavelmente, darão conta da queixa inicial do cliente.
Agora esgotamos toda e qualquer possibilidade de
falar dos sentimentos na terapia comportamental, correto? ERRADO! Estamos
esquecendo de uma pessoa importante para a terapia. Você consegue pensar em
alguém? Sim, estamos falando do próprio terapeuta e de seus sentimentos. O
terapeuta, como o cliente, também é um organismo sensível que é afetado pelas
contingências e, consequentemente, possui emoções. Mas porque os sentimentos do
terapeuta são importantes? Não é apenas a habilidade técnica dele que importa?
Voltemos a nosso argumento inicial: os sentimentos
são dicas comportamentais sobre as contingências. O terapeuta está em uma
contingência social com seu cliente, logo, os sentimentos que possui em relação
a ele são um produto da interação de sua história de vida com o contexto atual
estabelecido no setting terapêutico, o que nos faz voltar para o
argumento inicial: os sentimentos do terapeuta são dicas comportamentais de
como os comportamentos do cliente o afetam e, possivelmente, de como outras
pessoas se sentem em relação ao comportamento do cliente.
OK, meu cliente hipotético é agressivo e me deixa
com raiva e a minha cliente hipotética que só chora me deixa com desesperança.
São dicas importantes para fazer minhas avaliações comportamentais, sobre o que
acontece dentro e fora do consultório, comigo e com outras pessoas. Mas posso
fazer algo a mais com isso?
Segundo a Psicoterapia Analítica Funcional (FAP),
uma estratégia comportamental contemporânea, a expressão de sentimentos do
terapeuta pode ser uma consequência muito importante para as respostas do
cliente. Para a FAP, os sentimentos do terapeuta e modificações nas
probabilidades de agir são consequências naturais do comportamento do cliente.
No entanto, muitas vezes essas consequências não o afetam pois não demonstramos
nossos sentimentos (ou apenas fazemos uma cara de paisagem em relação ao que o
ele ou ela fez!). Se guardamos nossos sentimentos para nós mesmos, o cliente
não entrará em contato com importantes consequências do seu comportamento.
Segundo a FAP, o terapeuta deve expressar seus próprios sentimentos durante o
processo terapêutica como uma forma de intervenção. É incrível como um simples
“eu fiquei um pouco triste com o que você fez” pode afetar o terapeutizando.
Podemos ver que as emoções e os sentimentos são
muito importantes na prática do analista do comportamento, sejam eles de seus
clientes ou seus próprios. Assim, aconselho vocês: aumentem a frequência das
respostas verbais “E como você se sentiu em relação a isso?” e “E como EU me
senti em relação a isso?”. Acredito que as consequências de tais práticas,
assim como a expressão de tais tatos, serão capazes de manter sua emissão,
tanto na sua prática, quanto na vida cotidiana!
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