(Texto
escrito por Maira Lima - Membro LAC-AC)
No total de 40 países analisados, o Brasil ocupa a 38ª
posição nos rankings de leitura, matemática e ciências. A educação é uma grande
preocupação de sociedades modernas; sua qualidade é avaliada mundialmente com
medidas como desempenho escolar, níveis de repetência ou desistência, etc.
Segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), os
relatórios produzidos pela Pearson e, também, pela EIU (Economist Intelligence
Unit) (BBC online, 2014). O nível de repetência é consideravelmente
numeroso. Esses dados são consequência do baixo desempenho de alunos da rede
pública de ensino. A bola de neve chegou ao ponto de se falar sobre a “geração
de diplomas”, resultado de indivíduos que ao longo da vida escolar deixam os
estudos sempre de lado. Chegam a garantir o diploma, porém a qualificação que o
mercado pede, simplesmente fica em segundo plano (BBC online, 2013).
Diante desses fatos, eis que surge a pergunta: “Afinal, de quem é a
culpa?”. 91% dos professores brasileiros alegam que as causas do baixo
desempenho escolar são a falta de interesse dos alunos, o meio em que o aluno
vive e a falta de acompanhamento dos pais (Lima, 2013, Gazeta do Povo).
Enquanto isso, os pais culpam a escola. No fim ambos se unem para culpar o
governo.
Enquanto isso, na Ásia, famílias de classe média e rural fazem o que
podem e, até mesmo, o que não podem para garantir o melhor ensino para os
filhos. Para garantir a inserção dos filhos em uma boa universidade, as famílias
asiáticas têm acumulado dívidas com atividades extracurriculares e mensalidades
de escolas privadas. Nos Estados Unidos, cresce o número de famílias que optam
pela educação domiciliar. Os pais demonstram preocupação com a insegurança,
bullying e a má qualidade de ensino na rede pública. A eficiência dessa prática
é verificada nos resultados da prova nacional de avaliação.
É notável o contraste existente no ensino e aprendizagem de diversos
países. Precisamos levar em consideração a diversidade cultural, as
necessidades e demandas de cada população. Cada grupo aplica a metodologia que
determina ser mais adequada para que ocorra uma aprendizagem significativa,
tornando- se necessário a utilização de ferramentas inéditas, dinâmicas e
inovadoras para o ensino.
Nesse contexto, ciências como a Psicologia têm estudado formas de tornar
o ensino mais proveitoso e relevante, com técnicas novas. Nesse viés, a análise
do comportamento traz grandes contribuições para o âmbito da educação. No que
diz respeito à análise aplicada, cabe, dentre outros recursos, o uso de filmes
que possibilitem a discussão dos princípios behavioristas em situações do
cotidiano. Partindo desse ponto, o presente texto apresenta como proposta a
análise do filme Enjaulados (Detention/Learning curve, 1998), o qual
possibilita a observação de inúmeros conceitos da análise do comportamento,
como esquemas de reforçamento, contingências aversivas, dentre outros, e a
influência destes nos padrões de comportamento dos personagens.
O filme apresenta uma história fictícia que se passa em uma escola do
subúrbio dos Estados Unidos, na qual alunos de uma determinada turma
apresentavam comportamentos ditos como inadequados (agressivos,
descomprometidos, dentre outros), e esses padrões eram mantidos pelas
contingências presentes nesta instituição de ensino. Devido ao afastamento da
professora titular, o professor William Walmsley (interpretado pelo ator John
S. Davies) é convidado a ser professor substituto nessa escola. Inicialmente o
professor tenta modificar o comportamento destes alunos, fazendo uso dos
recursos disponíveis, contudo sem sucesso, pois esbarra na influência e
manutenção do meio no comportamento destes. Opta então por levar sete alunos a
um lugar isolado que permite a utilização de diferentes estratégias de ensino
para mudar o comportamento dos mesmos, permitindo o ensino de conteúdos
escolares e de outros repertórios. Contudo, as estratégias adotadas pelo
professor consistem basicamente no uso de contingências aversivas, o que permite
a discussão da eficácia ou não destas, seja através da retirada de algo
reforçador ou apresentação de estímulos aversivos. Mas o por quê do uso da
punição? Será que punimos alguém cujo comportamento consideramos como ruim,
prejudicial para o meio onde nos encontramos, apenas com o intuito de reduzir a
frequência deste comportamento inadequado? Este filme permite o início da
discussão e reflexão destas questões, ilustrando os diferentes efeitos da
punição nos comportamentos dos personagens.
Em certo momento os estudantes são despidos e presos em uma jaula
eletrizada com subdivisões, e são despertados com uma música que toca
ininterruptamente. Os alunos ainda permanecem um longo período de tempo
sozinhos com Hey Mickey (Toni Basil) tocando continuamente.
Os alunos tentam abrir a jaula, mas ao tocarem as barras , recebem uma
descarga elétrica. Uma mudança no ambiente em decorrência de um comportamento
pode ser descrita através da contingência. Para isso ocorrer é necessário um
“se” e um “então”. Se um dos alunos tocasse as barras eletrizadas então
recebiam uma descarga elétrica.
Walmsley chega ao local distribuindo roupa, água e protetor solar para
cada aluno, realiza algumas orientações e diz que as aulas irão começar. Ele
controla a música, eletricidade do chão e o rumo do, até então, novo método de
ensino. No dia seguinte, junto com pão e água, Walmsley entrega uma lista de
estudos, pois no dia seguinte será aplicada uma prova e garante que quando os
alunos terminarem ganharão mais comida.
Inicialmente, os alunos se mostram relutantes, a frequência da emissão
de palavrões aumenta e todos acreditam estar em uma pegadinha. A cada palavrão
dito, a cada comportamento inadequado, segundo o professor, os alunos recebiam
um choque acompanhado de um determinado som. Após o emparelhamento de
estímulos, só de ouvir o som, os alunos se retraiam. A punição de determinado
comportamento resulta na diminuição da frequência desse comportamento. A
punição tem como função retirar certo comportamento de um repertório (Skinner,
1974, p.56).
O reforço positivo, segundo Skinner, aumenta a probabilidade de um
comportamento voltar a ocorrer. Então, após um longo período de privação, os
adolescentes passam a estudar assiduamente para obterem roupas, comida, itens
de higiene e água.
Como os spoilers já passaram da conta nesse texto, me limito e relatar
apenas alguns recortes do filme que demonstram situações de reforço e punição.
Se deu certo ou não, indico que assistam o filme. Claro que as técnicas
utilizadas por Walmsley extrapolaram os direitos e deveres dos alunos. Mas fica
o questionamento: Todos podem fazer algo a mais, algo de diferente para mudar a
situação do ensino no Brasil, então o que impede os próprios pais e professores
de começar a modificar o sistema de ensino? A resposta fica para outro momento.
Referências:
Moreira, M.B.; Medeiros, C.A. (2007). Princípios básicos de analise do
comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Sampaio, B.; Guimaraes, J. Diferenças de eficiência
entre ensino público e privado no Brasil. Econ. aplic., São Paulo, v. 13, n. 1, p. 45-68, 2009.
Skinner, B. F. (1974). Sobre o
behaviorismo. São Paulo: Cultrix, 2006.
Todorov, J. C. (2007). A Psicologia como o
estudo das interações. Psicologia: Teoria e Pesquisa (pp. 347-356). Brasília,
reedição de texto publicado em 1989, no volume 5 número 3.
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