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LAC-AC: Liga Acadêmica Curitibana de Análise do Comportamento

domingo, 15 de junho de 2014

O comportamento auto-emotivo

O automóvel foi uma invenção essencial para o homem. Ele foi determinante para a mudança comportamental do indivíduo, visto que, gerou profunda modificação no dia-a-dia. O carro, no início, era símbolo de status e poder, mas quando ele foi se tornando mais acessível, ele não só diminuiu o tempo de deslocamento entre distâncias, “encurtando-as”, como também permitiu maior flexibilidade nos horários individuais. Ele tornou-se imprescindível porque hoje não se imagina como viver sem um. O carro, quando foi inventado, simbolizou um futuro mais veloz e ágil, um avanço mais rápido da sociedade em direção aos horizontes. Foi uma invenção que aumentou as possibilidades do homem de um modo geral.
Pode-se recorrer muito facilmente à psicanálise para explicar tamanha paixão que há em torno destes veículos. Entretanto, prefiro recorrer à Análise do Comportamento para verificar os motivos da tamanha identificação - daqueles que se identificam - que ocorre entre o homem e a máquina. Tal identificação, como iremos ver, é totalmente relacionada à emoção que envolve esta relação que um determinado indivíduo possui com a máquina, pois muitos agem e cuidam do seu carro como se fosse outro ser vivo, dando-o nomes e tratando-o como outro igual. Assim, podemos dizer que há uma identificação.
Então, o que seria emoção? As emoções surgem em contextos específicos, ou seja, eventos no ambiente - contexto - em que o homem está inserido que desencadearam essas emoções. Skinner, em seu livro Ciência e Comportamento Humano, enfatiza que a emoção não é causa e sim resultado de uma cadeia, a qual, na Análise do Comportamento, chamamos de tríplice contingência.
A emoção é um evento privado, ou seja, um comportamento que só pode ser interpretado se aquele que se comportou falar sobre. Mesmo assim, não diferencia-se o evento privado de um não privado e o primeiro pode ser analisado a partir dos mesmos princípios do segundo.
A história de vida de todos os indivíduos envolve reforçamentos, punições e contingências, assim como, há aprendizagem no que tange a associação de eventos já vividos e eventos sendo vividos, presentes. Ao ocorrer essa associação, o indivíduo fica sob controle de uma classe de respostas emocionais que podem ir do medo à alegria, por exemplo.
Tudo em um carro é atrativo. Pode-se perceber isto pelo próprio mercado criado em torno dele. Desde peças automotivas que aumentam o desempenho, sprays que mantém o “cheiro de novo”, até silicones e ceras para deixar o exterior, se me permitem, mais reforçador.  
Atire a primeira pedra aquele que não perdeu um pouco do fôlego -  acompanhado de um sorriso - quando estava percorrendo algum trecho em alta velocidade. A emoção de estar em alta velocidade, ultrapassando outros carros, sendo o primeiro, a ansiedade que envolve o ambiente são associados com o comportamento respondente do aumento dos  batimentos cardíados e a adrenalina que possui um poder reforçador extremamente intenso.
Não importa se o(s) estímlo(s) antecedente(s) é/são necessidade para chegar rápido em algum lugar específico, o prazer por dirigir ou ouvir o barulho do motor. O carro se torna um reforçador secundário, adquirido, por isso varia de pessoa para pessoa. Esse reforçador secundário “obtêm seu poder para fortalecer e manter o comportamento em virtude de uma história passada de associação com reforçadores primários.” (Millenson, 1975, p. 227). O carro não é o mesmo que comida, água e sexo, mas possui uma capacidade reforçadora tão forte quanto.
Acredito que não é possível descrever todas as contingências presentes dentro de emoções que envolvem os automóveis. Mas o barulho que se ouve do motor é um tipo de consequência que altera a probabilidade do comportamento. Muitos possuem medo de dirigir, seja pelo próprio barulho do carro - que muitos amam - seja pelo próprio trânsito e todas as discriminações, às quais o indivíduo fica sob controle. Portanto, cada um possui seus próprios sentimentos sobre os estímulos provenientes dos automóveis e cada um possui sua própria história complexa e individual,  para com essa máquina.
Muitos julgam, dentro da sociedade capitalista de hoje em que o foco é possuir coisas, ter um carro um pouco mais caro pode ser associado com a visão que os outros possuem do dono. O dono do carro fica sob controle do que as pessoas ao redor pensam sobre sua imagem e, por isso, acaba por alterar o seu comportamento para agradar essas mesmas pessoas. Ao colocar como estímulo antecedente o que as pessoas pensam, o sujeito altera toda a sua classe de respostas.  
Podemos concluir que as emoções que envolvem os automóveis são várias e variadas e, por isso, uma situação ou ambiente desencadeia uma emoção que será diferente em outra situação ou ambiente como, por exemplo, a emoção de estar fazendo uma ultrapassagem durante uma competição e a emoção sentida em uma frenagem imprevista. Não importa qual a relação estabelecida entre qualquer pessoa e a máquina. Os carros foram invenções que mudaram completamente nosso repertório comportamental, mas não os processos que o determinam.

Referências Bibliográficas
Skinner, B. F. (2003). Ciência e Comportamento Humano. 11.ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 489p.

Millenson, J. R. (1975). Princípios de Análise do Comportamento. Brasília: Coordenada.

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