(Texto escrito por Juliana Ribeiro - membro LAC-AC)
Analistas do comportamento ou não, todos já tentamos mudar hábitos e controlar nosso próprio comportamento para obter benefícios como melhorias na saúde, em produtividade, ou mesmo em relações sociais. Resoluções de ano novo, e os primeiros dias ou até semanas de um novo ano, em que um indivíduo comporta-se (pelo menos em certa medida) em função de determinado objetivo estabelecido, são bons exemplos de tais tentativas.
Ao nos tornarmos familiares com princípios comportamentais como o papel
de contingências de reforço na manutenção de um comportamento, bem como com a
prática de análises funcionais de comportamentos, é comum que queiramos não só
descobrir quais são as variáveis controladoras de nossos comportamentos, como
também manipular algumas dessas variáveis de modo a obter certos reforçadores -
como uma melhor forma, melhor rendimento acadêmico ou profissional, menos
dívidas, entre outros. Tal manipulação de variáveis, em que um indivíduo
modifica determinados aspectos do ambiente de modo a alterar o próprio
comportamento, é denominada autocontrole (Skinner, 1953); exercer autocontrole
é comportar-se, modificando variáveis das quais o comportamento é função de
modo a tornar mais provável um comportamento desejado (Skinner, 1953, 1974).
De acordo com Skinner (1953), um indivíduo tende a controlar o próprio
comportamento quando uma resposta tem consequências que provocam conflitos - ou
seja, que produzem reforçadores tanto positivos quanto negativos. Um exemplo é
o comportamento de fumar: enquanto fumar um cigarro pode produzir reforçadores
positivos como relaxamento, a longo prazo tal comportamento leva a estímulos
aversivos - problemas de saúde como câncer de boca e pulmão. Martin e Pear
(2011) também indicam a presença de conflitos como causas de problemas de
autocontrole. De acordo com os autores, no caso de excessos comportamentais, o
conflito geralmente envolve reforçadores imediatos para determinado
comportamento, concorrentes com estímulos aversivos atrasados ou com outros
reforçadores atrasados. O exemplo citado anteriormente, do comportamento de
fumar, se aplica ao primeiro caso - os reforçadores imediatos do fumar
concorrem com consequências aversivas cumulativamente significantes. Em relação
ao segundo caso, um outro exemplo poderia ser uma pessoa que gasta uma grande
quantia de dinheiro com algo supérfluo - enquanto comprar determinada
mercadoria pode trazer reforçadores imediatos, ao deixar de fazer a compra a
pessoa teria a quantia de dinheiro disponível futuramente. Já em relação a
déficits comportamentais, os conflitos envolvem pequenos punidores imediatos
concorrentes com reforçadores cumulativamente significantes - um exemplo é o
comportamento de exercitar-se: reforçadores como melhoria na saúde e na forma
corporal concorrem com punidores imediatos como cansaço e desconforto. Ainda em
relação a déficits comportamentais, os punidores imediatos podem concorrer com
punidores atrasados mais significantes no caso de o comportamento não ocorrer -
por exemplo, usar um capacete ao andar de moto pode ser quente e
desconfortável, mas no caso de um acidente não usar um capacete pode levar a
lesões sérias, consequências aversivas muito mais significativas do que o
desconforto imediato.
Como, então, podemos modificar nosso próprio comportamento de modo que
ele seja controlado por determinadas variáveis do ambiente e não outras?
Skinner (1953) e Martin e Pear (2011) mencionam diversas táticas de
autocontrole. Algumas dessas táticas envolvem mudanças no ambiente imediato -
por exemplo, estudar em uma biblioteca ou em um escritório de maneira a
aumentar a probabilidade de estudar e diminuir a probabilidade de distrair-se.
Mudanças ainda podem referir-se a outros estímulos antecedentes, como outras
pessoas - por exemplo, uma pessoa tentando parar de fumar pode passar mais
tempo com pessoas não-fumantes - ou a hora do dia - por exemplo, estudar pode
ser mais produtivo de manhã, quando há menos estímulos que possam causar
distração. No caso de um excesso comportamental, o ambiente pode ser manipulado
de modo que o custo para emitir o comportamento problema seja aumentado,
diminuindo a probabilidade de sua ocorrência. Estratégias de autocontrole ainda
podem envolver a manipulação das consequências de determinado comportamento: o
comportamento de fumar, por exemplo, é mantido não só pelos reforçadores
providos pelo cigarro, mas também por reforçadores condicionados como
interações sociais com outros fumantes; assim, uma tática de autocontrole
direcionada às consequências do comportamento consiste em eliminar reforçadores
condicionados que possam fortalecer um comportamento problema. Outra tática é
providenciar para que um indivíduo engajado em autocontrole receba reforçadores
de acordo com o seu progresso - os reforçadores, nesse caso, podem ser
gerenciados tanto por outras pessoas quanto pelo próprio indivíduo.
Dadas as táticas mencionadas acima, é possível concluir que certo
conhecimento em análise do comportamento pode conferir a um indivíduo a
possibilidade de controlar o próprio comportamento de maneira eficaz.
Entretanto, esse nem sempre é o caso - como muitos já sabem por experiência
própria, controlar o próprio comportamento sistematicamente de maneira a
atingir certo objetivo pode ser difícil. Uma das causas de tal dificuldade é
que, muitas vezes, o próprio indivíduo gerencia reforçadores a si mesmo; o
autocontrole é dificultado pelo fato de que nesse caso o acesso ao reforçador
não está restrito ao seu progresso em relação ao comportamento desejado,
estando disponível a qualquer momento e não necessariamente contingente a
determinado comportamento. Martin e Pear (2011) mencionam outras causas de
recaídas em programas de autocontrole, incluindo falha ao antecipar estímulos
que podem levar a recaídas (geralmente estímulos condicionados relacionados ao
comportamento problema), falhas na especificação da resposta, incluindo
objetivos vagamente descritos ou muito ambiciosos, ou falhas ao prover
reforçamento contingente ao comportamento desejado. A identificação de fatores
que possam interferir em um programa de autocontrole já indica possíveis
precauções que podem ser tomadas de modo a desenvolver autocontrole de maneira
eficaz: antecipar estímulos que possam levar a uma recaída, planejando
possíveis cursos de ação; estabelecer um objetivo claro e realista, especificando
critérios indicativos de que o objetivo foi cumprido, e planejar reforçadores
frequentes e contingentes ao comportamento desejado e, se possível, incluindo a
administração de reforçadores por outro indivíduo.
Apesar de o próprio planejamento sistemático para o desenvolvimento de
autocontrole ser caracterizado por um alto custo de resposta, é justamente o
planejamento que leva ao sucesso do programa, aliado às estratégias
provenientes dos princípios analítico-comportamentais. É possível concluir que,
apesar do custo de resposta, o planejamento de um programa de autocontrole
orientado pela análise do comportamento seja reforçado pelo seu sucesso,
proporcionando benefícios ao indivíduo que controla o próprio comportamento.
Referências
Martin, G., & Pear, J. (2011). Behavior
Modification: What It Is and How To Do It (9th Edition). Upper Saddle
River: Prentice Hall.
Skinner, B. F. (1974). Sobre o behaviorismo.
São Paulo: Cultrix, 2006.
Skinner, B. F. (1953). Ciência e
comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
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