Texto escrito por Marjorie Wanderley (UFPR, Assessoria de Comunicação LAC-AC)
As frases
de auto-ajuda dificilmente são mentiras descabidas, ou não-aplicáveis no
cotidiano. Muito pelo contrário, várias delas dizem respeito a como as coisas
acontecem de fato, porém, recebem uma interpretação lugar-comum, o que acarreta
na falta de credibilidade que recebem. Esse texto consiste em uma tentativa de
analisar segundo os princípios da Análise do Comportamento cinco frases de
auto-ajuda – todas retiradas do Orkut de
sites motivacionais.
“Nada
na vida é somente bom ou somente ruim, nem amar...”
Parece
que aprendemos a separar todas as coisas na vida em caixinhas de ‘bom’ e
‘ruim’. Qualquer frase que seja taxativa do tipo X sempre vai ser bom e Y
sempre vai ser ruim toma reforço e punição de uma maneira errada – quando
começamos a estudar Análise do Comportamento, temos a impressão de que reforços
são coisas boas e punições são coisas ruins. No entanto, reforço
e punição não são definidos como “bom” e “ruim” respectivamente, e não dependem
de sensação de prazer ou desprazer, e sim se a taxa de respostas do mesmo tipo
vai aumentar ou diminuir. Portanto, algo ser bom ou ruim para um indivíduo
específico vai depender de sua história filogenética, ontogenética e cultural (explicado melhor nesse texto). Já que o assunto
são frases de auto-ajuda clichês, Pedro Bial provavelmente está certo quando
diz “Quer saber de uma coisa? Tudo pode ser bom, ruim (...) Bom é amar, ruim é
amar (...) E pode ser bom falar sobre bom e ruim, e pode ser pior assim”.
“Nem
tudo que parece, é”.
Outra
coisa que aprendemos na Análise do Comportamento, principalmente quando
começamos a estudar clínica, é estar atento à função dos comportamentos – isso
significa que frente ao comportamento de outra pessoa, por exemplo, quando o
cliente pede o número do celular ou adiciona no Facebook não existe a atitude
‘certa’ ou ‘errada’, mas tudo depende da função do comportamento – ou seja, o
que a outra pessoa quer com isso, qual foi o antecedente para o comportamento
dela e qual é a consequência que ela espera. Isso pode ser generalizado para as
demais coisas da vida no que diz respeito às relações interpessoais – frente a
atitudes das outras pessoas, e principalmente para aquelas que não entendemos,
é interessante não nos limitarmos à topografia do comportamento (porque
lembrem, nem tudo o que parece, é), mas sim devemos descobrir qual é a função
daquilo, e a partir daí fica mais fácil de decidirmos qual resposta emitir,
inclusive.
“Está
tudo sob controle!”
Inclusive
nós! Essa frase nunca fez tanto sentido como na Análise do Comportamento –
nosso comportamento, ou seja, tudo o que fazemos, está sob controle de
determinadas condições, dos antecedentes do comportamento e de suas
consequências (atenção – o que não significa que está tudo determinado – papo
para outra hora...). Sendo assim, estamos sempre sob controle de estímulos, ou
seja, o comportamento é controlado pelo contexto no qual ele ocorre, e também
pelas suas consequências, já que as consequências determinarão, em algum grau, a
ocorrência posterior daquele comportamento com maior ou menor frequência.
“O
segredo é não correr atrás das borboletas… É cuidar do jardim para que elas
venham até você”
Essa
frase parece dizer respeito a criar condições para que um determinado comportamento
aconteça, ao invés de forçar sua evocação. Em uma linguagem metafórica, seria
não sair caçando borboletas com uma rede, mas sim plantar flores no jardim e
esperar que as borboletas venham – as flores seriam estímulos discriminativos e
plantar as flores seriam comportamentos facilitadores para a ocorrência de
outros comportamentos. Um exemplo literal seria sair de casa ao invés de ficar
na cama, em um caso de depressão, o que geraria um contexto para ocorrência de
reforçadores como falar com alguém legal ou conhecer um bom lugar – seria não
buscar especificamente um determinado reforçador, ainda mais quando não sabemos
exatamente o que nos reforça, mas sim criar condições facilitadoras, já que o
contexto social cria condições para a ocorrência de determinados reforçadores.
Pode
dizer respeito, também, a utilizar controle por reforçamento positivo ao invés
de controle coercitivo - e nesse sentido, plantar as flores seria reforçar
positivamente o comportamento de as borboletas (ou o que quer que seja) virem,
e caçá-las com a rede seria controle coercitivo, ou seja, controlar o
comportamento de uma forma aversiva através de reforçamento negativo ou
punição. Como nós conhecemos muito bem os efeitos do controle coercitivo...
cultivemos nossos jardins!
"Creia
na força do Pensamento Positivo"
Dizem
por aí que basta pensar positivo para que tudo ao nosso entorno se transforme.
A literatura de autoajuda chama esse fenômeno de "lei da atração". Do
jeito como é dito, parece que os pensamentos são coisinhas magnéticas que
atraem coisas boas para nossa vida. Porém, segundo a Análise do Comportamento,
pensamentos não possuem capacidade de atrair magneticamente e nem são a causa
inicial de nada - já que a causa deve ser buscada na interação com o ambiente. Sendo assim... Isso quer dizer que essa frase é besteira? Não. Pensamento é
comportamento, é um evento privado – e este tipo de comportamento pode alterar
estímulos que aumentam a probabilidade da ocorrência de um evento. Por exemplo,
quem pensar positivamente sobre achar uma nota de R$50,00 na rua tem mais
chances de realmente achar, mas não porque atraiu magneticamente a nota, e sim
porque provavelmente passou a andar na rua olhando mais para o chão, logo,
aumentou suas chances de encontrar a nota. Como o pensamento é um
comportamento, também está sujeito às suas consequências, e por “pensamentos
positivos” terem essa característica provavelmente serão reforçados, logo...
creia em sua força!
"Aquilo
que consome sua mente controla sua vida"
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