Durante o nosso
desenvolvimento de pequenos organismos, ou crianças, com determinadas classes
de comportamentos, até o momento em que nos tornamos grandes organismos, ou
adultos, com aquelas classes de comportamentos acrescidas de outras e mais
outras, muitas vezes nos deparamos com a ideia de que é bom fazer o bem aos
outros sem esperar nada em troca. A pessoa que executa determinadas atividades
de bom grado e sem ter a pretensão de ser recompensada por isso é comumente
conhecida como altruísta ou “bom samaritano”.
Ora, primeiramente podemos nos atentar para o
fato de que, de certa forma, esse comportamento, falando aqui muito
genericamente, de “ser bom com os outros” não é apresentado a troco de nada. A
ideia de que a expectativa dos indivíduos seja por uma recompensa física, como
dinheiro ou outro bem material, faz sentido no senso comum, porém é uma
justificativa incompleta quando pensamos sob a ótica analítico-comportamental.
Na Análise do Comportamento, para que uma
determinada resposta ocorra (no caso, o ato altruísta) é necessário um estímulo
que a anteceda, afinal, para haver uma resposta deve existir algo para ela
responder, digamos assim. Além disso, uma resposta não ocorrerá ao acaso, visto
que é também importante haver uma consequência a ela relacionada. Apesar de
geralmente entendermos, como havia dito antes, que a recompensa de algo deve
ser palpável, não devemos esquecer que um reforçamento não necessita ser
efetuado em forma de um objeto; ou seja, muitas vezes o ato de elogiar o comportamento
altruísta de alguém é reforçador, o que explicaria o fato de essa pessoa
repetir esse comportamento.
Outra coisa que muitas vezes foge aos nossos
olhos é o fato de que, para diferenciar uma ação de um comportamento, deve
haver uma função. É importante ter em vista o que antecede o comportamento de
ajudar o outro, ainda que soe bastante abstrato defini-lo dessa maneira.
Imaginar que um reforçamento social puro e simples não influencia grandemente
nesse tipo de atitude é ignorar variáveis significativas.
Com essa brevíssima reflexão não tenho o intuito
de diminuir as pessoas que consideram esse tipo de comportamento importante ou
apontar para quem se denomina altruísta e dizer que, na verdade, ela ou ele
está sob controle de alguma coisa considerada egoísta, e muitas vezes alguns
atos que se julga de um bom samaritano são motivados pela imagem que a pessoa
terá perante o resto do seu grupo de convivência, isto é, que a pessoa só
apresentará comportamentos julgados altruístas diante do olhar de outrem ou a
fim de que seja vista como alguém bom.
Esse tipo de comportamento que estamos
observando e analisando rapidamente está atrelado a uma cultura, que pode ser
apenas um grupo pequeno ou toda uma sociedade mais complexa, e será selecionado
de acordo com um valor de sobrevivência, como denomina Skinner – como um amigo
comentou, é o comportamento altruísta que sustenta a existência da nossa
sociedade, e possivelmente essa é uma das razões para que continuemos a
reforçar comportamentos classificados como altruístas.
Vale lembrar que o fato de uma pessoa altruísta
não executar o que se entende por ato altruísta – ou seja, o não esperar algo
em troca – torne esse mesmo comportamento digno de reprovação ou que se deva
suprimi-lo de alguma forma. Ainda há como resultado uma melhora para uma
segunda pessoa (ou pessoas), e é por isso também que há uma seleção desses
comportamentos. A finalidade dele, que seria o fazer o bem ao próximo, é uma
das consequências, e portanto é ela também um dos reforçadores.
O exemplo de uma mãe que cuida bem do seu filho
mostra como um comportamento altruísta traz o benefício pessoal para quem o
apresenta e para o alvo desse comportamento, por assim dizer.
Se pensarmos que existem três níveis de seleção
– filogenético, que diz respeito à espécie e comportamentos selecionados pela
sobrevivência de seus membros; ontogenético, relativo aos comportamentos no
âmbito de um indivíduo, à história de vida dele; e cultural, fruto das
interações entre os organismos e com comportamentos que terão valor de
sobrevivência não para apenas a espécie em si, mas para a estrutura social
vigente – e que uma interação mãe-filho diga muito sobre comportamentos do
primeiro nível de seleção, esse altruísmo não é algo apenas aprendido para
benefício próprio, ainda que pareça apenas auxiliar os demais. Não se espera
uma troca de favores em determinadas relações sociais, entretanto o fato de
presenciar a alegria alheia já faz com que a pessoa deseje realizar mais atos
semelhantes àquele, diferentemente de uma pessoa egoísta.
O fato de existirem três diferentes níveis de
seleção implica que as sociedades, que podem ter origens diversas tanto
estrutural quanto geograficamente, apresentarão diferenças nos comportamentos
selecionados ao longo de seu desenvolvimento, ainda que com o advento da
globalização haja maior convergência entre práticas culturais, por exemplo.
Essa análise sobre o altruísmo se aplica focalmente em uma sociedade ocidental,
com valores determinados.
Por enquanto esse tipo de comportamento tem
funções importantes na manutenção da nossa sociedade como a entendemos, e,
aparentemente, teve por um longo tempo antes dos organismos atuais colocarem
seus pés nesse mundo. Contudo, não podemos afirmar com certeza se essa prática
continuará a ser selecionada ao longo das gerações, ou se sua função acabará
mudando no fim das contas; e, assim, nos depararmos com comportamentos de ser
egoísta, de ter finalidades diferentes do comportamento de ser altruísta. Pelo
visto essa dicotomia continuará despertando a curiosidade e o debate por
bastante tempo.
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