LAC-AC

LAC-AC: Liga Acadêmica Curitibana de Análise do Comportamento

domingo, 25 de maio de 2014

Altruísmo na ótica da Análise do Comportamento


Ora, primeiramente podemos nos atentar para o fato de que, de certa forma, esse comportamento, falando aqui muito genericamente, de “ser bom com os outros” não é apresentado a troco de nada. A ideia de que a expectativa dos indivíduos seja por uma recompensa física, como dinheiro ou outro bem material, faz sentido no senso comum, porém é uma justificativa incompleta quando pensamos sob a ótica analítico-comportamental.        

Na Análise do Comportamento, para que uma determinada resposta ocorra (no caso, o ato altruísta) é necessário um estímulo que a anteceda, afinal, para haver uma resposta deve existir algo para ela responder, digamos assim. Além disso, uma resposta não ocorrerá ao acaso, visto que é também importante haver uma consequência a ela relacionada. Apesar de geralmente entendermos, como havia dito antes, que a recompensa de algo deve ser palpável, não devemos esquecer que um reforçamento não necessita ser efetuado em forma de um objeto; ou seja, muitas vezes o ato de elogiar o comportamento altruísta de alguém é reforçador, o que explicaria o fato de essa pessoa repetir esse comportamento.

Outra coisa que muitas vezes foge aos nossos olhos é o fato de que, para diferenciar uma ação de um comportamento, deve haver uma função. É importante ter em vista o que antecede o comportamento de ajudar o outro, ainda que soe bastante abstrato defini-lo dessa maneira. Imaginar que um reforçamento social puro e simples não influencia grandemente nesse tipo de atitude é ignorar variáveis significativas.

Com essa brevíssima reflexão não tenho o intuito de diminuir as pessoas que consideram esse tipo de comportamento importante ou apontar para quem se denomina altruísta e dizer que, na verdade, ela ou ele está sob controle de alguma coisa considerada egoísta, e muitas vezes alguns atos que se julga de um bom samaritano são motivados pela imagem que a pessoa terá perante o resto do seu grupo de convivência, isto é, que a pessoa só apresentará comportamentos julgados altruístas diante do olhar de outrem ou a fim de que seja vista como alguém bom.

Esse tipo de comportamento que estamos observando e analisando rapidamente está atrelado a uma cultura, que pode ser apenas um grupo pequeno ou toda uma sociedade mais complexa, e será selecionado de acordo com um valor de sobrevivência, como denomina Skinner – como um amigo comentou, é o comportamento altruísta que sustenta a existência da nossa sociedade, e possivelmente essa é uma das razões para que continuemos a reforçar comportamentos classificados como altruístas.

Vale lembrar que o fato de uma pessoa altruísta não executar o que se entende por ato altruísta – ou seja, o não esperar algo em troca – torne esse mesmo comportamento digno de reprovação ou que se deva suprimi-lo de alguma forma. Ainda há como resultado uma melhora para uma segunda pessoa (ou pessoas), e é por isso também que há uma seleção desses comportamentos. A finalidade dele, que seria o fazer o bem ao próximo, é uma das consequências, e portanto é ela também um dos reforçadores.

O exemplo de uma mãe que cuida bem do seu filho mostra como um comportamento altruísta traz o benefício pessoal para quem o apresenta e para o alvo desse comportamento, por assim dizer.

Se pensarmos que existem três níveis de seleção – filogenético, que diz respeito à espécie e comportamentos selecionados pela sobrevivência de seus membros; ontogenético, relativo aos comportamentos no âmbito de um indivíduo, à história de vida dele; e cultural, fruto das interações entre os organismos e com comportamentos que terão valor de sobrevivência não para apenas a espécie em si, mas para a estrutura social vigente – e que uma interação mãe-filho diga muito sobre comportamentos do primeiro nível de seleção, esse altruísmo não é algo apenas aprendido para benefício próprio, ainda que pareça apenas auxiliar os demais. Não se espera uma troca de favores em determinadas relações sociais, entretanto o fato de presenciar a alegria alheia já faz com que a pessoa deseje realizar mais atos semelhantes àquele, diferentemente de uma pessoa egoísta.

O fato de existirem três diferentes níveis de seleção implica que as sociedades, que podem ter origens diversas tanto estrutural quanto geograficamente, apresentarão diferenças nos comportamentos selecionados ao longo de seu desenvolvimento, ainda que com o advento da globalização haja maior convergência entre práticas culturais, por exemplo. Essa análise sobre o altruísmo se aplica focalmente em uma sociedade ocidental, com valores determinados.

Por enquanto esse tipo de comportamento tem funções importantes na manutenção da nossa sociedade como a entendemos, e, aparentemente, teve por um longo tempo antes dos organismos atuais colocarem seus pés nesse mundo. Contudo, não podemos afirmar com certeza se essa prática continuará a ser selecionada ao longo das gerações, ou se sua função acabará mudando no fim das contas; e, assim, nos depararmos com comportamentos de ser egoísta, de ter finalidades diferentes do comportamento de ser altruísta. Pelo visto essa dicotomia continuará despertando a curiosidade e o debate por bastante tempo.


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