Texto escrito por Eduardo Ricetti (UFPR -
Financeiro e Recursos Humanos LAC-AC)
Em um texto lançado aqui no blog no dia 7 de fevereiro sob o título “Fala que eu te
escuto” tratei do “conversar”, uma interação comportamental comum no
nosso cotidiano, e disse que o “entender” é uma consequência importante que
deve derivar dos comportamentos que compõe este conjunto abrangente que
denominamos de “conversar”.
O “entender” pode ser compreendido como um conjunto de comportamentos em
que as variáveis que controlam a emissão das respostas verbais de alguma das
partes da conversa são variáveis muito parecidas sob as quais a outra parte da
conversa está ou estava sob controle diante da emissão daquelas respostas. Um
exemplo simples de “entender” seria eu escrever “controle”, como escrevi acima,
e você ficar sob controle da definição de controle (as variáveis das quais a
resposta é função) ou de um exemplo de relação de controle. Um exemplo de “não
entender” seria você ficar sob controle somente de formas de coerção, um tipo
específico de relações de controle.
Tomando esta definição de “entender” como ponto de partida e o ambiente
do ensino superior como um contexto onde entender é uma interação bastante
importante para que o ensino ocorra de fato com os alunos desenvolvendo, pelo
menos, os comportamentos que o professor estabeleceu como objetivos, proponho
que analisemos uma atividade bastante comum deste ambiente: a leitura, mais
especificamente a leitura de textos acadêmicos.
Esta atividade (pelo menos aqui, no Curso de Psicologia da UFPR), quando
obrigatória, geralmente é complementada por uma aula em que o texto é comentado
pelo professor ou contextualizado historicamente, enfim, são apresentadas
informações que os alunos devem “apreender".
Tudo bem, vamos dividir o parágrafo anterior de acordo com os processos
comportamentais dos quais ele trata. Primeiro há a escolha do texto, em segundo lugar o aluno lê o texto, em terceiro lugar o professor dá a aula e em quarto lugar o aluno aprende/desenvolve os
comportamentos esperados pelo professor ou não. Se o objetivo do ensino é
que o quarto processo seja o aprendizado, dos três primeiros processos devem
derivar o aprendizado, ou melhor, estes processos devem aumentar o quanto mais for possível e necessário a probabilidade de que ocorra o
aprendizado.
Sendo assim, vamos analisar o primeiro processo. Visando aquele
objetivo, o professor deveria selecionar o texto que fosse o mais fácil
possível para o aluno entender, ou até, caso não fosse encontrado um texto que
oferecesse o mínimo necessário para que o aluno o entenda, produzir um texto
ele mesmo para que o aluno entenda aquilo que é necessário para que
determinados comportamentos se desenvolvam. O necessário e o possível dependem das
variáveis que afetam o comportamento do professor no momento da escolha, sendo
o primeiro referente aos comportamentos a serem desenvolvidos e o segundo a
quaisquer eventos que afetem o próprio processo de escolha do texto (tempo para
fazer isso e tarefas concorrentes me parecem os principais).
Afinal, como fazer isso? Que comportamentos o professor precisa
apresentar para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o
objetivo de “facilitar a vida do aluno”? Coloquemos esta pergunta em suspenso,
por enquanto.
Se este primeiro processo for feito com sucesso, o segundo terá uma
maior probabilidade de se concluir. Digo isso porque num contexto em que o
aluno tem zilhões de matérias, nem todas interessando a ele, quanto mais fácil
for um texto/quanto mais o texto “permitir” que o aluno o entenda haverá mais
chances de o aluno entendê-lo (perdão pelo círculo vicioso) lembrando que essa
permissão é concedida mais pelo professor do que pelo próprio texto, pois é ele
quem seleciona o texto.
O terceiro processo servirá então para duas coisas: aumentar a
probabilidade de que os alunos fiquem sob controle daquilo sobre o que texto
fala (seja por repetir o texto ou por apresentar aquilo que o texto trata de
uma maneira diferente dele para que os alunos que não o entenderam finalmente o
façam) ou ampliar a os conjuntos de estímulos sob controle dos quais os alunos
irão ficar para que desenvolvam outros comportamentos – quais serão estes não
cabe aqui dizer.
Encerramos este texto então com duas questões: aquela que pedi para
vocês suspenderem que é “o que o professor deve fazer para selecionar um texto
“entendível” para o seu aluno/que comportamentos o professor precisa apresentar
para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o objetivo
de ‘facilitar a vida do aluno’?” e “se o aluno ainda não aprender/desenvolver
um comportamento específico?” Bom, reservamos o texto seguinte que eu irei
escrever para tentar responder estas questões.
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