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LAC-AC: Liga Acadêmica Curitibana de Análise do Comportamento

terça-feira, 22 de abril de 2014

Escreve aí que, quem sabe, eu leio

Texto escrito por Eduardo Ricetti (UFPR - Financeiro e Recursos Humanos LAC-AC)

Em um texto lançado aqui no blog no dia 7 de fevereiro sob o título “Fala que eu te escuto” tratei do “conversar”, uma interação comportamental comum no nosso cotidiano, e disse que o “entender” é uma consequência importante que deve derivar dos comportamentos que compõe este conjunto abrangente que denominamos de “conversar”.

O “entender” pode ser compreendido como um conjunto de comportamentos em que as variáveis que controlam a emissão das respostas verbais de alguma das partes da conversa são variáveis muito parecidas sob as quais a outra parte da conversa está ou estava sob controle diante da emissão daquelas respostas. Um exemplo simples de “entender” seria eu escrever “controle”, como escrevi acima, e você ficar sob controle da definição de controle (as variáveis das quais a resposta é função) ou de um exemplo de relação de controle. Um exemplo de “não entender” seria você ficar sob controle somente de formas de coerção, um tipo específico de relações de controle.

Tomando esta definição de “entender” como ponto de partida e o ambiente do ensino superior como um contexto onde entender é uma interação bastante importante para que o ensino ocorra de fato com os alunos desenvolvendo, pelo menos, os comportamentos que o professor estabeleceu como objetivos, proponho que analisemos uma atividade bastante comum deste ambiente: a leitura, mais especificamente a leitura de textos acadêmicos.

Esta atividade (pelo menos aqui, no Curso de Psicologia da UFPR), quando obrigatória, geralmente é complementada por uma aula em que o texto é comentado pelo professor ou contextualizado historicamente, enfim, são apresentadas informações que os alunos devem “apreender".

Tudo bem, vamos dividir o parágrafo anterior de acordo com os processos comportamentais dos quais ele trata. Primeiro há a escolha do texto, em segundo lugar o aluno lê o texto, em terceiro lugar o professor dá a aula e em quarto lugar o aluno aprende/desenvolve os comportamentos esperados pelo professor ou não. Se o objetivo do ensino é que o quarto processo seja o aprendizado, dos três primeiros processos devem derivar o aprendizado, ou melhor, estes processos devem aumentar o quanto mais for possível e necessário a probabilidade de que ocorra o aprendizado.

Sendo assim, vamos analisar o primeiro processo. Visando aquele objetivo, o professor deveria selecionar o texto que fosse o mais fácil possível para o aluno entender, ou até, caso não fosse encontrado um texto que oferecesse o mínimo necessário para que o aluno o entenda, produzir um texto ele mesmo para que o aluno entenda aquilo que é necessário para que determinados comportamentos se desenvolvam. O necessário e o possível dependem das variáveis que afetam o comportamento do professor no momento da escolha, sendo o primeiro referente aos comportamentos a serem desenvolvidos e o segundo a quaisquer eventos que afetem o próprio processo de escolha do texto (tempo para fazer isso e tarefas concorrentes me parecem os principais).

Afinal, como fazer isso? Que comportamentos o professor precisa apresentar para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o objetivo de “facilitar a vida do aluno”? Coloquemos esta pergunta em suspenso, por enquanto.

Se este primeiro processo for feito com sucesso, o segundo terá uma maior probabilidade de se concluir. Digo isso porque num contexto em que o aluno tem zilhões de matérias, nem todas interessando a ele, quanto mais fácil for um texto/quanto mais o texto “permitir” que o aluno o entenda haverá mais chances de o aluno entendê-lo (perdão pelo círculo vicioso) lembrando que essa permissão é concedida mais pelo professor do que pelo próprio texto, pois é ele quem seleciona o texto.

O terceiro processo servirá então para duas coisas: aumentar a probabilidade de que os alunos fiquem sob controle daquilo sobre o que texto fala (seja por repetir o texto ou por apresentar aquilo que o texto trata de uma maneira diferente dele para que os alunos que não o entenderam finalmente o façam) ou ampliar a os conjuntos de estímulos sob controle dos quais os alunos irão ficar para que desenvolvam outros comportamentos – quais serão estes não cabe aqui dizer.

Encerramos este texto então com duas questões: aquela que pedi para vocês suspenderem que é “o que o professor deve fazer para selecionar um texto “entendível” para o seu aluno/que comportamentos o professor precisa apresentar para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o objetivo de ‘facilitar a vida do aluno’?” e “se o aluno ainda não aprender/desenvolver um comportamento específico?” Bom, reservamos o texto seguinte que eu irei escrever para tentar responder estas questões.

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