LAC-AC

LAC-AC: Liga Acadêmica Curitibana de Análise do Comportamento

terça-feira, 29 de abril de 2014

Pesquisar: Do Laboratório para o Cotidiano

Texto escrito por Roberto Veloso (Presidente LAC-AC)

Então você pensava que pesquisar é coisa de cientistas malucos, vestidos em jalecos empoeirados, que não dormem direito e que se esquecem de pentear o cabelo? Bem, pode até ser verdade, mas é só parte verdade, porque todo mundo pesquisa. Isso mesmo, pesquisar não é algo que se faz apenas em laboratórios, mas principalmente no cotidiano.

Estamos pesquisando constantemente. Desde os primeiros anos de vida quando começamos a procurar por aquele brinquedo que o tio babão escondeu atrás da mão, bem diante dos nossos olhos, passando pela busca pela batida perfeita e até a pesquisa por aquela fulana de tal que estava te olhando assim no bar, ontem. Tudo isso é, em alguma medida, pesquisar.

Se pesquisar é uma atividade tão comum no dia a dia, por que, então, ela se tornou tão importante, tão cheia de glamour, tão…científica? As pesquisas científicas receberam, nos últimos séculos, grande atenção por terem nos proporcionado talvez as maiores descobertas da humanidade, depois do fogo, da roda e do café, claro. Foi através de pesquisa científica que descobrimos os medicamentos anti-inflamatórios que salvaram tantas pessoas e permitiram um avanço gigantesco na Medicina. Foi através de pesquisa científica que descobrimos como fazer uma pessoa chegar até a Lua (sem entrar no mérito da questão sobre já termos feito isso ou não). E foi através da pesquisa científica que descobrimos que doenças mentais não são causadas por espíritos malignos, tal como se acreditava na Idade Média.

Acho engraçado pensar que a mesma atividade (pesquisar) que produziu tantas consequências maravilhosas para a humanidade foi pouco eficiente a me levar a encontrar o outro par da minha meia. Piadas à parte, não é a mesma atividade. Ou será que é? Existe, evidentemente, uma diferença entre a pesquisa científica e a pesquisa que fazemos no Google, por exemplo. Mas o que as distingue?

Talvez essa diferença tenha começado quando uma pessoa perguntou à outra “mas como você fez para achar isso?” e essa outra respondeu, com a digna expressão da sabedoria do momento, “foi assim, assim, e assim”, de maneira que quando a primeira fez assim, assim, e assim, também conseguiu achar o “isso” em questão. E desde que houve sucesso em achar esse tal de “isso”, a gente começou a prestar atenção em como as pessoas resolviam as coisas, até um dia em que alguém percebe que tinha um problema para resolver, mas não sabia como. Não tinha ninguém para lhe ensinar a agir “assim, assim, e assim” de maneira a resolver seu problema. Esse infortunado teve, no fim das contas, de descobrir por si mesmo. Teve que pesquisar.

A ciência pode até não ter começado assim, mas essas situações ilustram um princípio importante na pesquisa científica: você precisa organizar as coisas. Se sair procurando aleatoriamente por aí, olhando o que lhe aparece pela frente conforme a sorte lhe apresenta os fatos, talvez até encontre, mas dificilmente esse seria um método muito eficiente. Pesquisar envolve organizar tudo o que você tem a sua disposição.

Contudo, antes de começar a se organizar, outro passo é importante: definir o que quer encontrar. Não é preciso saber a resposta para o problema que procura, veja bem. Seria loucura procurar o que já se sabe. O que é preciso é delimitar bem o problema. Quanto mais específica for sua delimitação, melhor preparado você estará para encontrar o que procura. Perceba, por exemplo, a diferença entre pesquisar “um jeito de chegar lá” e pesquisar “o melhor caminho para ir até o estádio de futebol mais perto da sua casa”. Essa delimitação precisa faz toda a diferença.

Parece que não fica tão difícil agora aplicar esse princípio da pesquisa científica ao cotidiano. Se eu tenho um problema para o qual necessito de alguma solução, o primeiro passo é conseguir delimitar o problema de maneira precisa. Isso vale tanto para você que tem que descobrir como poupar melhor seu dinheiro quanto para você que quer lidar melhor com seus colegas.

Depois de delimitar precisamente o problema, como já disse, sair procurando em qualquer lugar é contar com a sorte: organize sua pesquisa! Existem formas mais eficazes para lidar com determinadas situações. Algumas estratégias funcionam melhor para alguns problemas e algumas funcionam melhor para outros. Se sua namorada se acalma com chocolate e sua mãe com flores, talvez não seja tão eficaz mandar flores para a namorada brava e chocolate para a mãe furiosa.

Existem centenas de manuais descrevendo dezenas de estratégias para utilizar em pesquisa científica e seria insensatez tentar apresentá-las aqui. Futuramente quem sabe a gente conversa sobre algumas delas - as mais comuns, talvez. Ao invés disso, há uma observação mais útil: a delimitação do problema já te dá uma boa dica de qual estratégia usar para resolvê-lo.

Se você quer saber quantas pessoas moram em Curitiba, talvez não seja uma boa estratégia sair contando todo mundo que você vê pelas ruas quando passeia pela cidade. Uma estratégia melhor seria procurar no banco de dados do IBGE. E lembra aquela minha meia perdida? Eu não consegui encontra-la em lugar nenhum, nem debaixo da cama nem no sapateiro; parecia que tinha sido abduzida por alienígenas... Até que eu procurei na gaveta de meias.

Em resumo: (1) não saia procurando em qualquer lugar, (2) planejamento evita desperdiçar tempo e (3) atente-se para sua delimitação do problema de pesquisa, pois ele te indicará a melhor forma de resolvê-lo.

Um terceiro e último aspecto da pesquisa científica que gostaria de relacionar ao nosso cotidiano é o que fazemos quando conseguimos completar uma investigação com sucesso: nós eventualmente ficamos felizes pelo resultado... E só! Por outro lado, os cientistas, quando terminam uma pesquisa, registram tudo com muito cuidado e publicam em uma revista específica. Chique, não? Nem tanto, ou melhor, não por isso. O objetivo dessa publicação é informar à comunidade o que foi descoberto e como foi descoberto. Assim todas as pessoas poderão se beneficiar não apenas daquele novo conhecimento como também daquela forma de consegui-lo.

É bom notar que não estou sugerindo a ninguém sair contando para todo mundo o que acabou de descobrir (eu mesmo não saí contando para ninguém que encontrei meu par de meia na devida gaveta... não até escrever este texto ao menos). O que quero sugerir é compartilhar como nós chegamos as nossas descobertas. Esse tipo de conhecimento, no cotidiano, pode muito facilitar a vida de nossos parentes, colegas e até funcionários. É o que faz, ouso dizer, a cultura humana crescer.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Escreve aí que, quem sabe, eu leio

Texto escrito por Eduardo Ricetti (UFPR - Financeiro e Recursos Humanos LAC-AC)

Em um texto lançado aqui no blog no dia 7 de fevereiro sob o título “Fala que eu te escuto” tratei do “conversar”, uma interação comportamental comum no nosso cotidiano, e disse que o “entender” é uma consequência importante que deve derivar dos comportamentos que compõe este conjunto abrangente que denominamos de “conversar”.

O “entender” pode ser compreendido como um conjunto de comportamentos em que as variáveis que controlam a emissão das respostas verbais de alguma das partes da conversa são variáveis muito parecidas sob as quais a outra parte da conversa está ou estava sob controle diante da emissão daquelas respostas. Um exemplo simples de “entender” seria eu escrever “controle”, como escrevi acima, e você ficar sob controle da definição de controle (as variáveis das quais a resposta é função) ou de um exemplo de relação de controle. Um exemplo de “não entender” seria você ficar sob controle somente de formas de coerção, um tipo específico de relações de controle.

Tomando esta definição de “entender” como ponto de partida e o ambiente do ensino superior como um contexto onde entender é uma interação bastante importante para que o ensino ocorra de fato com os alunos desenvolvendo, pelo menos, os comportamentos que o professor estabeleceu como objetivos, proponho que analisemos uma atividade bastante comum deste ambiente: a leitura, mais especificamente a leitura de textos acadêmicos.

Esta atividade (pelo menos aqui, no Curso de Psicologia da UFPR), quando obrigatória, geralmente é complementada por uma aula em que o texto é comentado pelo professor ou contextualizado historicamente, enfim, são apresentadas informações que os alunos devem “apreender".

Tudo bem, vamos dividir o parágrafo anterior de acordo com os processos comportamentais dos quais ele trata. Primeiro há a escolha do texto, em segundo lugar o aluno lê o texto, em terceiro lugar o professor dá a aula e em quarto lugar o aluno aprende/desenvolve os comportamentos esperados pelo professor ou não. Se o objetivo do ensino é que o quarto processo seja o aprendizado, dos três primeiros processos devem derivar o aprendizado, ou melhor, estes processos devem aumentar o quanto mais for possível e necessário a probabilidade de que ocorra o aprendizado.

Sendo assim, vamos analisar o primeiro processo. Visando aquele objetivo, o professor deveria selecionar o texto que fosse o mais fácil possível para o aluno entender, ou até, caso não fosse encontrado um texto que oferecesse o mínimo necessário para que o aluno o entenda, produzir um texto ele mesmo para que o aluno entenda aquilo que é necessário para que determinados comportamentos se desenvolvam. O necessário e o possível dependem das variáveis que afetam o comportamento do professor no momento da escolha, sendo o primeiro referente aos comportamentos a serem desenvolvidos e o segundo a quaisquer eventos que afetem o próprio processo de escolha do texto (tempo para fazer isso e tarefas concorrentes me parecem os principais).

Afinal, como fazer isso? Que comportamentos o professor precisa apresentar para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o objetivo de “facilitar a vida do aluno”? Coloquemos esta pergunta em suspenso, por enquanto.

Se este primeiro processo for feito com sucesso, o segundo terá uma maior probabilidade de se concluir. Digo isso porque num contexto em que o aluno tem zilhões de matérias, nem todas interessando a ele, quanto mais fácil for um texto/quanto mais o texto “permitir” que o aluno o entenda haverá mais chances de o aluno entendê-lo (perdão pelo círculo vicioso) lembrando que essa permissão é concedida mais pelo professor do que pelo próprio texto, pois é ele quem seleciona o texto.

O terceiro processo servirá então para duas coisas: aumentar a probabilidade de que os alunos fiquem sob controle daquilo sobre o que texto fala (seja por repetir o texto ou por apresentar aquilo que o texto trata de uma maneira diferente dele para que os alunos que não o entenderam finalmente o façam) ou ampliar a os conjuntos de estímulos sob controle dos quais os alunos irão ficar para que desenvolvam outros comportamentos – quais serão estes não cabe aqui dizer.

Encerramos este texto então com duas questões: aquela que pedi para vocês suspenderem que é “o que o professor deve fazer para selecionar um texto “entendível” para o seu aluno/que comportamentos o professor precisa apresentar para que a escolha seja feita com eficiência, ou seja, que cumpram o objetivo de ‘facilitar a vida do aluno’?” e “se o aluno ainda não aprender/desenvolver um comportamento específico?” Bom, reservamos o texto seguinte que eu irei escrever para tentar responder estas questões.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Comportamento Proativo

Texto escrito por Roberto Veloso (Presidente LAC-AC)

Algumas vezes nos vemos em situações nas quais é importante que resolvamos um determinado problema. Noutras, fica ainda mais difícil pois o problema nem aconteceu. Nosso “problema” torna-se prevenir que algo ruim aconteça. E fica ainda mais difícil quando aparecem situações em que não temos nenhum problema para resolver e não vemos nem como evitar que aconteçam, mas, ainda assim, algo pode ser feito para melhorar a situação.

O comportamento que acontece nessas condições é provavelmente o que chamamos de “proatividade”, ou, comportamento proativo.

É um comportamento importante, veja bem. E na mesma medida, difícil de se analisar. A palavra “proatividade” não nos auxilia muito em entender a que ela se refere. Que é alguma coisa que alguém faz, não temos dúvida. Mas, não sendo algo que se faça em qualquer contexto, é interessante descobrirmos o que caracteriza o comportamento proativo. Quando a gente diz que uma pessoa é proativa? Quando dizemos que não é?

O que uma pessoa faz porque outra lhe ordenou fazer dificilmente seria considerado proativo. Parece que esse tipo de comportamento precisaria partir da própria pessoa, sem influência óbvia de outra. Daí a considerar que ele é voluntário e depende do indivíduo é um pequeno passo que faríamos caso não estivéssemos comprometidos com o Comportamentalismo Radical. Esses comportamentos que “parecem” ser livremente emitidos ganham explicações mentalistas quase que naturalmente numa conversa casual. Por outro lado, a falta de especificidade com que são descritos dificulta que sejam funcionalmente analisados. Pelo visto, nossa tarefa aqui não é das mais fáceis.

Não consideraremos, portanto, que o comportamento proativo é independente do contexto, ainda que assim o pareça. Talvez ele esteja relacionado a aspectos sutis da situação no qual acontece. Uma pessoa que, diante de um determinado problema, faz alguma coisa e encontra a solução sem que ninguém tenha lhe ordenado fazê-lo parece exibir algum grau de proatividade. Mas esse caso talvez não nos sirva como exemplo paradigmático.

Um funcionário de uma empresa que, antes de determinado problema acontecer, faz alguma coisa e o evita, parece exibir um grau de proatividade ainda maior do que o exemplo anterior.

Mas como pode alguém se comportar diante de algo que ainda não aconteceu sem, necessariamente possuir poderes sobrenaturais? Agir por “intuição” talvez não ajude muito, uma vez que parece extremamente difícil desenvolver essa habilidade em alguém e estamos interessados numa análise da proatividade que sirva a muitas pessoas. A não ser que por “intuição” entendamos certa inclinação a fazer alguma coisa, provocada por dicas contextuais a respeito das quais tenhamos pouca ou quase nenhuma consciência.

Pensar que alguém pode tentar prevenir um problema que está prestes a acontecer, sem que seja ordenado a fazê-lo, parece um caso mais claro de comportamento proativo, ainda que não seja claro em termos comportamentais. Avançamos um passo para entender como isso acontece ao sugerirmos que um problema, como uma situação aversiva para aquele que precisa resolvê-lo, pode ser caracteristicamente antecedido por outras situações. Essas situações precedentes, por assim dizer, é que levam a pessoa a fazer alguma coisa pare evitar que o problema aconteça.

Se em situações anteriores o professor aplicou uma prova mais difícil porque algum aluno o aborreceu com piadas constrangedoras durante suas aulas, qualquer aluno que perceba essa relação (conscientemente ou não) e acalme o professor, pode ter se comportado de maneira proativa. Talvez tenhamos dificuldade em concordar que se ele não soubesse do problema, se não tivesse consciência dele, seu comportamento não teria sido proativo. Proatividade estaria relacionada, portanto, a identificar um problema e fazer alguma coisa para resolvê-lo sem que seja necessário  ordem de alguém, ou ainda identificar sinais de que um problema está para acontecer e fazer alguma coisa para evitá-lo, também sem que alguém nos obrigue a fazê-lo.

Um terceiro caso em que parece haver algum grau de comportamento proativo é ainda mais complicado porque não envolve um problema e nem sinais de problemas próximos. Em contextos em que as coisas estão funcionando devidamente e alguém faz alguma coisa para que funcionem ainda melhor, mais uma vez, sem que outra pessoa o tenha obrigado a agir assim, parece ser o exemplo mais claro de comportamento proativo. Da mesma forma, o caso mais difícil de analisar funcionalmente. Começamos a compreender situações assim se conseguirmos identificar em uma mesma situação o que levou uma determinada pessoa a propor a melhoria na qual seu comportamento proativo foi baseado. O comportamento criativo parece ser o centro dessa questão.

Em todos os exemplos de situações nas quais concordaríamos que há proatividade, uma característica se manteve constante: é imprescindível ao comportamento proativo que não seja controlado por ordens, pedidos, imposições ou mesmo sugestões. Isso é um problema para nossa análise na medida em que nos leva a perguntar: se uma pessoa pudesse resolver um determinado problema sem que tivesse de ser ordenada a fazê-lo, o que a impediria até então de resolvê-lo? Em outros termos, se ela podia fazer isso sem precisar ser mandada, por quê não fez?

Talvez tenhamos chegado ao cerne da questão. Essa parece ser a característica crucial do comportamento proativo. Mas talvez não consigamos explicá-la completamente neste texto.

A importância do comportamento proativo para qualquer grupo, organização e sociedade é óbvia: quando alguém se comporta de maneira proativa, além de resolver um problema importante para o grupo, evita o esforço que um supervisor gastaria em pedir, mandar ou exigir que aquela pessoa fizesse aquilo.

Um aspecto da situação que pode contribuir para nosso entendimento do que caracteriza o comportamento proativo talvez esteja relacionada aos efeitos do reforço operante. Um comportamento reforçado, além de ter sua frequência aumentada, tende a ter reduzidas as variações nas respostas da mesma classe e, além disso, outros comportamentos também têm sua frequência reduzida.

Por exemplo, se aprendi a resolver um determinado problema de um jeito, é provável que quando ele se repetir eu volte a resolvê-lo do mesmo jeito. Esse efeito do reforço pode me prender a uma única forma de resolver aquele problema. Situações assim mudam apenas quando alguma característica do problema muda e nosso jeito antigo de resolvê-lo já não funciona mais. Mas e se, ao invés de esperar o problema nos surpreender ao aparecer de uma forma nova, nós investigássemos um jeito de resolvê-lo de maneira ainda mais eficiente?

Essa parece ser a essência do comportamento proativo.  Ela depende, no entanto, de algumas condições. A primeira delas é que a pessoa proativa precisa aprender a identificar problemas e suas soluções. Precisa também aprender a propor soluções novas quando as antigas já não são mais eficientes (o que chamaríamos de criatividade). Mas, o essencial, é que essa pessoa aprenda a propor soluções ainda melhores mesmo quando as antigas soluções continuam funcionando.

Um passo final para o desenvolvimento da proatividade, o passo que frequentemente não é dado, é a independência do aspirante a proativo de seu instrutor. Alguém que está aprendendo a resolver problemas e a evitar que aconteçam muitas vezes são ensinados por alguém que exerce a função de instrutor. Quando essa classe de comportamentos que chamamos de “resolver problemas” estiver mantida em uma frequência alta, pode acontecer que a pessoa em questão resolva um problema sem ter sido ordenada a fazê-lo. Se nesse caso seu comportamento for reforçado, natural e/ou arbitrariamente, pode ser que o comportamento proativo comece a ser fortalecido.

Temos no mínimo mais dois desafios se quisermos promover o ensino desse tipo de comportamento. O primeiro diz respeito ao fator “preguiça”. O segundo diz respeito a como criar condições para que uma pessoa comece a resolver problemas sem que seja ordenado a fazê-lo. Comecemos por este último.

Resolver problemas é um comportamento complexo e difícil de ser aprendido, quanto mais ensinado, a despeito de seu valor e importância para o indivíduo e sua sociedade. Ensinar alguém a ser um bom solucionador de problemas parece uma tarefa deveras complexa, mas suponhamos que ela seja feita e que produza bons resultados. Teremos aí uma pessoa que é boa em resolver problemas, e que os resolve com alguma frequência. É necessário uma outra mudança para fazer com que essa pessoa comece a resolver problemas por conta própria. Esperar que uma situação assim aconteça naturalmente torna tudo ainda mais difícil de acontecer. Dizer à pessoa “agora você terá de resolver problemas sem que eu te mande fazê-lo” parece não ser uma solução apropriada, uma vez que se a pessoa assim o fizer, continuará sob controle de uma regra emitida por outra pessoa.

Parece que o único jeito viável seria dispor problemas fáceis para aquela pessoa resolver e, uma vez que ela entre em contato com tais problemas, aguardar que a alta frequência de seu comportamento a leve a resolver mais aquele problema, como que por hábito. Reforçar um caso desses parece ser o início de um ensino de comportamento proativo.

O outro problema, apelidado aqui de “fator preguiça”, é derivado de uma lei do comportamento: se uma solução para um problema continua funcionando, e se vai exigir esforço para que eu investigue uma forma melhor, mais eficiente, menos dispendiosa, de fazer isso, é pouco provável que eu venha a fazê-lo se não houver consequências imediatas, como, por exemplo, alguém que me peça para investigar uma forma melhor de fazer alguma coisa; pedido esse que descaracterizaria o comportamento proativo que estamos analisando.

Em termos técnicos, em uma determinada contingência de reforço em que uma resposta tem um custo maior para o organismo que a emite, tal resposta custosa dificilmente será emitida, ainda que a longo prazo ela produza mais reforçadores que a outra. Tendemos a fazer o que é mais fácil se não houver motivos claros para escolher a opção mais difícil e, por outro lado, consequências a longo prazo dificilmente influenciam nosso comportamento. Como levar alguém a agir contra essas duas tendências do comportamento dos organismos?

Primeiro, parece necessário que o candidato a aprender a se comportar proativamente precisa aprender a identificar as consequências a longo prazo dos comportamentos em que ele, ou seu grupo, se engajam. E deve aprender a fazer isso principalmente nos casos em que os comportamentos em questão já são eficientes (o que, como já vimos, é bastante complicado). Percorrido esse trajeto é que uma pessoa consegue estar “motivada” (um estímulo aversivo condicionado serve aqui como motivação) a propor uma mudança no status quo. Propor essa mudança e levá-la a cabo precisa ser feito, nessa situação, sem estar sob comando de ninguém para que caracterizemos tal situação como um caso de comportamento proativo, e isso envolve todas as dificuldades que já discutimos. Em outras palavras, a proatividade aparece quando status quo começa a incomodar.


Para finalizar, ressalto que o comportamento proativo envolve processos complexos relacionados à situações complexas e não participou de nenhum objetivo deste texto a tentativa de esgotar o assunto ou sugerir uma análise definitiva do tema. Por outro lado, foi objetivo a proposta de algumas características importantes para compreendermos esse comportamento e seu ensino tanto quanto aprendizagem. Já considero um grande avanço se qualquer uma das análises apresentadas aqui for útil para uma investigação mais aprofundada do tema. No entanto, se  seu sugerir que alguém se engaje em tais pesquisas não estarei contribuindo para a proatividade de ninguém. Melhor terminar aqui.