Texto escrito por Eduardo Ricetti (UFPR - Financeiro e Recursos Humanos LAC-AC)
Na
vida, querendo ou não, gastamos um bom tempo conversando. Conversamos sobre os
assuntos mais variados, às vezes preocupados com o vocabulário que estamos
utilizando, mas geralmente não. Consideremos uma situação bem específica e, ao
mesmo tempo, muito abrangente de nosso cotidiano enquanto analistas do
comportamento: as conversas com pessoas que não são analistas do comportamento
ou que não são de alguma outra área da psicologia, mas que tratam de assuntos
psicológicos ou da análise do comportamento.
Estas
conversas tendem a ser um pouco confusas, em primeiro lugar porque, geralmente,
a semântica do vocabulário comportamental não é a mesma semântica do
vocabulário leigo; ou melhor, as variáveis que controlam a emissão de respostas
verbais por parte dos analistas do comportamento não são as mesmas variáveis
sob as quais as pessoas que não são da área tendem a ficar sob controle diante
da emissão daquelas respostas. E aqui temos a nossa primeira confusão: a palavra
“controle”.
Ao
falarmos com o público geral sobre “controle”, tal qual o conhecemos na análise
do comportamento, já sabemos que há uma alta probabilidade de que o tema
“liberdade” surja. Mas, tendo em vista que a função geral dos comportamentos
emitidos em uma conversa é que esses comportamentos sejam entendidos, ou seja,
que as variáveis que controlam a emissão das respostas verbais de alguma das
partes da conversa sejam variáveis muito parecidas (já que dificilmente serão
as mesmas) sob as quais a outra parte da conversa irá ficar sob controle diante
da emissão daquelas respostas, podemos resolver esta confusão de uma maneira
bem simples. Troquemos a palavra “controle” por “atenção” (créditos ao nosso
presidente, Roberto Veloso).
Afora
a referência mentalista, que, se me permitem, nem vem ao caso nestas situações,
este truque cumpre muito bem a função “entendimento”, uma vez que “atenção” é
uma palavra geralmente usada diante de situações muito parecidas ao que
chamamos de “controle”. Outra situação parecida, embora menos frequente, é a
das palavras “condicionamento” e “aprendizagem”; substituindo a primeira pela
segunda evitamos uma série de desentendimentos que poderiam ser bem chatos de
resolver.
Enfim,
a prescrição geral para evitar o desentendimento é encontrar uma palavra do
senso comum que queira dizer a mesma coisa ou algo bem próximo de uma palavra
do repertório da análise do comportamento. Isso já foi descoberto (pasmem!),
não é coisa nova. Qual seria então a utilidade de dizer isso novamente?
Ora,
esclarecer as consequências de um determinado comportamento - ou, como é o caso
do “conversar”, de um conjunto de comportamentos - aumenta a probabilidade de
que ele seja emitido, uma vez que estabelece uma contingência de reforçamento
bastante específica e isso faz toda a diferença no dia a dia do analista do
comportamento. Esta semana mesmo ouvi de uma colega de graduação, também
analista do comportamento, que era difícil às vezes explicar um conceito ou
processo comportamental para alguém que não sabia patavinas sobre análise do
comportamento. Quantos mais analistas ou futuros analistas do comportamento
podem se sentir assim? Mais interessante seria perguntar: por que se sentem
assim?
Podemos
considerar que a constante cobrança pelo vocabulário científico exercida na
graduação contribua para que um repertório verbal mais leigo, digamos assim,
não seja desenvolvido ou melhor, mantido, visto que só aprendemos aquele
primeiro durante a graduação e o segundo já havíamos desenvolvido muito
provavelmente antes da graduação.
Além
disso, poucos professores ressaltam a importância de que aquilo que aprendemos
em psicologia serve a pessoas que, geralmente, não tem conhecimento sobre a
área; retornamos a nossa situação-problema: nós não conseguimos explicar o que
dizemos.
Enfim, embora as
contingências não estejam a favor da resolução do nosso problema, lembremos:
tudo que precisamos fazer é fazer-nos entender. Busquemos esta consequência em
nossas conversas e muito provavelmente seremos escutados
Antes de tudo: fantástico! Achei a frase "Além disso, poucos professores ressaltam a importância de que aquilo que aprendemos em psicologia serve a pessoas que, geralmente, não tem conhecimento sobre a área; retornamos a nossa situação-problema: nós não conseguimos explicar o que dizemos." muuuuuito legal!
ResponderExcluirAcredito que o problema tem natureza contextual: os analistas do comportamento aprendem uma linguagem técnica quando estão sendo treinados em sua ciência e esquecem que o contexto mudou quando vão falar com pessoas que não são da área. É como tentar falar grego com um brasileiro. E essa analogia já indica que quem tem de mudar não é o brasileiro que ouve, mas o grego que está fora de seu país. Isso tem uma consequência importante: se queremos que nossa cultura sobreviva, precisamos cooperar e "nos adaptar" à linguagem popular. A psicanálise não faz tanto sucesso à toa.
ResponderExcluirConcordo com a problemática apresentada. Não sabemos como falar sobre behaviorismo e AC para não adeptos, apesar que prefiro dizer "Eu é quem não sei"... tentava (sim desisti desta abordagem) explicar os conceitos a princípio e posteriormente a análise, trasformava-se em uma conversa averssiva e as consequências os srs. já podem imaginar, principalmente para um contexto casual.
ResponderExcluirEm minha formação com o Profº Paulo Abreu ele sugeriu que o termo controle fosse trocado por "influência" pois retoma uma ideia da importancia dos elementos ao redor porem não acentua a averssividade de não se estar "no controle". A sugestão de "atenção" agora me parece válida tbm.
Entretando, me pergunto, qual seria a real necessidade de sabermos falar sobre, com os não behavioristas, digo, isto visa uma divulgação para o popular ou focado a um nicho de profissionais que necessitam deste conhecimento? Imagino tal situação: Um grupo de profissionais da saúde interessados no autismo. Devemos adaptar nossa linguagem pra eles ficarem mais a vontade ou devemos atraí-los com os resultados do ABA e eles se verem compelidos a compreender a linguagem, que nos é muito importante pela própria necessidade ciêntifica. Penso deta maneira, pois, da mesma forma que eu não me vejo estudando todas as teorias da psicologia para então decidir qual a que irei dedicar meu tempo, escolhi em função dos resultados e da concomitancia com minha cosmologia até aquele momento, portanto imagino qual seria a disposição de um grupo de não psicologo em aprender um abordagem psicologia como a AC apenas para conhecer.
Roberto, como uma questão a parte, não seria a linguagem popular que se apropriou simplificadamente dos conceito da psicanálise? (e não, não estou me referindo ao atual "recalque").
Diego M.