Texto escrito por Marjorie Wanderley (UFPR - Assessoria de Comunicação LAC-AC)
No último texto publicado aqui no blog o
Presidente da LAC-AC explicou sobre a história e alguns dos pressupostos
básicos da Análise do Comportamento (AC, a partir de agora). Com base em todos
os seus conceitos e possibilidades de prática, a AC encontra espaço de atuação
em diversos âmbitos, o que já era esperado, visto seu objeto de estudo ser o
comportamento, presente em todos os âmbitos da vida. Alguns exemplos da
aplicabilidade da AC são: Ciências jurídicas, educação, medicina, diversos
programas de intervenção, treinamento e desenvolvimento de pessoal,
psicoterapia, entre outros. O foco desse texto será a prática clínica da AC,
mais objetivamente a psicoterapia, visto que no âmbito clínico existem outros
tipos de prática, como o coaching.
A história da clínica comportamental,
segundo Garcia (2007), iniciou-se com experimentos respondentes dentro de
laboratório, passando então para os operantes, e na década de 50, em ambientes
naturais do ser humano. Passa então a predominar os experimentos com diversos tipos
de sujeitos nos mais diversos settings. Porém, somente nos anos 80 e 90 surgem
clínicos voltados para a proposta de resgate do Behaviorismo Radical,
objetivando estudar os escritos de Skinner em uma proposta psicoterápica
voltada para um modelo de seleção por consequências.
É importante ressaltar que embora os
estudos de Skinner tenham dado origem ao processo de psicoterapia empregados
hoje em clínica, ele não foi um psicoterapeuta, mas sim um cientista e
pensador, cujo modelo, segundo Delitti (2005), é muito mais abrangente e se
estende a muitos outros contextos além da psicoterapia. Ainda, seu objetivo
principal era de que a AC fosse usada como uma prevenção para a sociedade, mais
do que para a solução de problemas.
Ainda assim, Skinner (1993) escreveu sobre
o processo terapêutico, apontando que o principal objetivo da terapia é o de
reverter mudanças comportamentais que aconteceram como resultado da punição e o
principal resultado é o de que os estímulos que são gerados automaticamente
pelo próprio comportamento do paciente tornam-se menos aversivos ao longo do
processo. Como consequência disso, passa a ser menos provável que exiba as
formas de comportamento operante que fornecem um meio de fugir dessa
estimulação. Skinner entende a Psicoterapia como uma agência controladora,
utilizada para lidar com os subprodutos do controle que incapacitam o indivíduo
ou que são perigosos para ele mesmo ou para os outros. Esses subprodutos são,
por exemplo, o medo, ansiedade, ira, raiva, e depressão.
Skinner, no mesmo texto, destaca a
importância, no processo psicoterapêutico, de o profissional saber fazer uma
boa entrevista, coletando todos os dados importantes da história de vida, dos
comportamentos em questão e do contexto em que o paciente vive. Essa coleta de
dados seria o primeiro passo, enquanto que o segundo seria a demonstração das
relações funcionais. O terapeuta, em seu papel de agente controlador, deve usar
todos os recursos possíveis para garantir que o paciente continue a ter contato
com ele, o que, ao longo da terapia, acaba acontecendo naturalmente na medida
em que o terapeuta torna-se uma fonte de reforço. Grande parte desse fato
deve-se ao terapeuta ser uma audiência não-punitiva, o que significa que não
critica o paciente nem nenhum de seus comportamentos, evitando o uso da
punição. Esses tipos de comportamentos fazem com que o comportamento até então
reprimido passe a aparecer no repertório do paciente.
Segundo Guilhardi (2004), a terapia
comportamental da atualidade é entendida como um processo que utiliza de
procedimentos ou técnicas comportamentais específicos, com o objetivo de
alterar exemplos de comportamentos. Porém, não se limita a essa prática, na
medida em que os problemas comportamentais do cliente geralmente são muito mais
abrangentes do que as queixas trazidas por ele. Portanto, a ênfase do terapeuta
deve ser no repertório geral de comportamentos do cliente, e não apenas em sua
queixa, ficando sobre controle dos excessos, déficits e reservas
comportamentais. O autor destaca, ainda, que não há unanimidade sobre a
definição de Terapia Comportamental, quanto às práticas clínicas ou o
referencial conceitual adotado pelo terapeuta comportamental.
O assunto de psicoterapia comportamental é
abrangente e o que foi feito aqui é apenas uma breve introdução. Outros
assuntos que podem ser discutidos são as diferenças entre Terapia
Comportamental e Terapia cognitivo-comportamental, muitas vezes confundidas,
técnicas empregadas na terapia comportamental, modelos de terapia. Ainda, o
aprofundamento em terapia infantil, terapia de casais, tratamento de fobias,
pânico e ansiedade, acompanhantes terapêuticos, enfim... Assuntos divertidos
que ficarão para uma outra hora!
Referências
Delitti, M. & Groberman, (2005). Skinner e terapia. Em: E.B. Borlotti; S.R.F.Enumo, M.L.P. Ribeiro (Orgs.).
Análise do Comportamento: teorias e práticas.
Garcia, M. R. (2007). O Percurso
Histórico da Terapia Comportamental. Revista Terra e Cultura – n. 44, ano
23.
Guilhardi, H. J. (2004). Terapia
Comportamental. Em: Terapia Comportamental e Cognitivo-comportamental –
Práticas Clínicas / organizadores Cristiano Nabuco de Abreu, Hélio José
Guilhardi – São Paulo : Roca, 2004.
Skinner, B. F. (1993). Ciência e Comportamento Humano.
Tradução de João Carlos Todorov e Rodolpho Azzi. São Paulo: Martins Fontes
(trabalho original publicado em 1953).
Nenhum comentário:
Postar um comentário