(Texto escrito por Caroline Molinari
- membro LAC-AC)
Mesmo que não seja
adepto de nenhuma religião, você provavelmente conhece pessoas que são.
Independente de qual seja a sua crença, as chances são grandes que você já
tenha se perguntado o que seria o comportamento religioso, ou tentado
entender como ele ocorre - sendo uma pessoa religiosa, com o objetivo de
entender melhor o próprio comportamento, e se não acredita, para tentar
compreender como as outras pessoas têm esse comportamento.
Do ponto de vista
da análise do comportamento, as atitudes religiosas não diferem em nada do
restante do comportamento humano, sendo assim, também são passíveis de análise.
Como a diversidade de crenças é alta existem várias formas de se relacionar com
a religião. Entendendo a impossibilidade de trabalhar com todas foi escolhido
focar no comportamento de um cristão, pois assim se estaria mais perto da
realidade brasileira. A religião cristã é baseada na premissa de que se
você tiver boas atitudes, quando morrer, irá para o Paraíso, caso contrário irá
para o Inferno. Para ajudar as pessoas a emitirem o comportamento que as
levaria para o Céu existem algumas “Leis da Igreja”, também chamadas de
mandamentos.
Existem duas
relações comportamentais básicas que mantém o comportamento religioso,
entretanto somente as duas não seriam suficientes para preservar o
comportamento durante toda uma vida. Essas duas seriam: o reforço positivo de
ir para o Paraíso e a punição positiva de ir para o Inferno. O reforço positivo
ocorre quando o acréscimo de um estímulo aumenta a frequência de um determinado
comportamento. Nessa situação, o acréscimo do estímulo positivo só ocorreria
muito tempo depois da ação que ele estará reforçando. Por ir todo domingo na
Igreja e seguir os mandamentos João irá para o Céu, por mais que isso só
aconteça muito tempo depois de João ter praticado todas essas ações o
fato de ele ir para o Céu é uma consequência direta delas. Existe uma relação
de contingência SE/ENTÃO na situação apresentada; se João for
para a Igreja todo domingo e seguir os mandamentos, então ele irá para o
Céu. A punição positiva aparece de forma semelhante. Já que a punição positiva
seria adicionar um estímulo que diminuí a frequência do comportamento podemos
aplicar a mesma lógica empregada para analisar o Paraíso como reforço positivo
para entendermos o Inferno como punição positiva. Se João tiver realizado ações
que sua comunidade religiosa considera erradas ele irá para o Inferno. Também
percebemos uma relação de contingência aqui; se João fizer as ações
consideradas erradas, então ele irá para o Inferno. É importante
destacar que nem o reforço nem a punição aconteceriam durante a vida da
pessoa. Os dois ocorreriam depois de sua morte, tornando assim as consequências
inexistentes em sua vivência.
O motivo pelo qual
somente essas duas relações comportamentais não são suficientes é que elas não
ocorreriam em vida e quanto mais tempo levar para um comportamento produzir
suas consequências menor vai ser o caráter reforçador/punitivo. Ou seja, tanto
a promessa do Paraíso quanto a ameaça do Inferno tem pouca capacidade de
reforçarem/punirem um comportamento. Para elas atingirem seus objetivos - fazer
a pessoa continuar acreditando na Igreja - essas promessas também são
associadas à reforços sociais e regras da instituição(mandamentos), sendo assim
esses reforços e regras adquirem um caráter de extrema importância para
manutenção do comportamento religioso.
O reforço que a
sociedade dá para as práticas religiosas é de suma importância para mantê-la,
já que somente o Céu e o Inferno não conseguem assegurar o comportamento
religioso sozinhos. A sociedade atua principalmente no reforço do
cumprimento dos mandamentos. Pois, quando alguém tem uma ação que condiz com o
que está definido nas leis religiosas essa pessoa é reforçada positivamente por
sua comunidade. Dessa maneira as atitudes religiosas vão sendo mantidas aos
poucos, as pessoas que partilham da mesma fé a incentivam a continuar se
comportando de acordo com os mandamentos e por esse reforço ocorrer é mais
provável que a ideia de Paraíso sirva como reforçadora.
O reforço social
também tem caráter importante quando se discute as diferenças entre o controle
pelas regras religiosas e pelas regras estatais. Enquanto é pouco provável que
você seja reforçado por cumprir uma lei civil - não matar alguém - as chances
da sua comunidade religiosa reforçar um jejum ou um celibato são altas. Outra diferença
entre esses dois conjuntos de normas é o fato que as regras divinas são mais
passíveis de serem auto-reforçadas - quando mesmo que a comunidade não
reconheça que a pessoa não quebrou o código ela se sente bem por não
tê-lo feito. Por mais que a pessoa seja mais reforçada por seguir as regras
religiosas do que as do estado, algumas das proibições da Igreja são muito mais
difíceis de se cumprir do que leis civis. Isso se dá com os mandamentos que não
envolvem apenas atos. Um exemplo seria o nono mandamento (Não desejarás a
mulher do próximo) onde a proibição também acontece a nível de pensamento,
tornando assim mais difícil a realização desse mandamento.
Por fim, é
importante ressaltar que o comportamento religioso não se limita ao apresentado
aqui. Existem muitas outras religiões, cada uma com pelo menos uma forma
diferente de comportamento estabelecido para seus adeptos. O próprio
cristianismo tem outros comportamentos envolvidos. Cada grupo religioso
representa uma nova análise.
Referências :
Moreira, M.B.; Medeiros, C.A. (2007). Princípios
básicos de analise do comportamento. Porto Alegre: Artmed.
Rodrigues, T. S. P.,
& Dittrich, A. (2007). Um Diálogo entre um Cristão Ortodoxo e um
Behaviorista Radical. Psicologia: Ciência e Profissão, 27(3), 522-537.
Skinner, B.F. What religion means to me. Free Inquiry,
Spring, 7, 12-13. 1987.